Folhetim de 01 de setembro de 2022
OBLATOS DE MARIA IMACULADA
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, PAZ E INTEGRIDADE DA CRIAÇÃO
1821-1822. O Rio de Janeiro era uma vila mal-cheirosa, fedida e infestada de mosquitos e insetos de todo tipo. Copacabana mal existia; Ipanema e Leblon eram latifúndios de gente rica. Dom João 6o e Dona Carlota Joaquina, herdeiros da “ideologia absolutista” europeia, viviam às turras… Ele preferia uma vilazinha chamada de Santa Cruz, um lugar perdido a muitos quilômetros do Rio; ela sonhava em deixar o marido, a colônia e buscar seus direitos em Portugal, Espanha, Uruguai e Argentina, o que de fato fez sem sucesso. O casal não se entendia sobre coisa alguma e praticamente vivia separado. O Rio de Janeiro não tinha um sistema de água e esgoto. A água era de nascentes que precisava ser tratada. Água usada, urina e fezes eram jogadas na famosa Baía da Guanabara pelos escravos africanos!… Estes eram despejados no Valongo, uma espécie de porto, depois de penosa e fedorenta travessia pelo Atlântico. Os que morriam eram jogados ao mar, sem reza e batismo e como alimento aos peixes. Os que chegavam eram de uma magreza desumana, e postos à venda como mercadoria no Valongo… hoje recuperado onde está construído o Museu do Amanhã… Depois do dia da chegada, o amanhã era igual ao dia de ontem; os escravos não tinham “eira nem beira”. Recuperar a inacreditável magreza… Impossível…
No ano da sua independência a colônia tinha tudo para dar errado. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população pobre e carente de tudo, que vivia à margem de qualquer oportunidade em uma economia agrária e rudimentar, dominada pelo latifúndio e pelo tráfico negreiro. O medo de uma rebelião de cativos assombrava a minoria branca. O analfabetismo era geral. De cada dez pessoas, só uma sabia ler e escrever. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na divisão do território, a exemplo do que já ocorria nas vizinhas colônias espanholas. Para piorar a situação, ao voltar a Portugal em 1821, Dom João 6o havia raspado os cofres nacionais. O país nascia falido. Faltavam dinheiros, soldados, navios, armas e munição para sustentar a guerra contra os portugueses. As perspectivas de fracasso eram bem maiores do que as de sucesso. A questão era se seria possível fazer um Brasil homogêneo, coerente e funcional com tantos escravos, pobres e analfabetos, tanto latifúndio e tanta rivalidade interna. Daria para construir um país com aquela matéria prima? O Brasil conseguiria fazer a amalgamação de tanta gente heterogênea em um corpo sólido? O país deu certo ou errado?
Depende do ponto de vista do observador.
O cenário da independência foi construído pelos portugueses, justamente aqueles que mais tinham a perder com a autonomia da colônia. O grito do Ipiranga que não houve foi consequência direta da fuga da corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808. Ao transformar o Brasil de forma profunda e acelarada nos 13 anos seguintes, D. João tornou a separação inevitável. A ruptura resultou menos da vontade dos brasileiros do que das divergências entre os próprios portugueses. Sergio Buarque de Holanda afirma que a Independência foi produto de “uma guerra civil entre portugueses” desencadeada na Revolução Liberal do Porto de 1820, e cuja motivação teriam sido os ressentimentos acumulados na antiga metrópole pelas decisões favoráveis ao Brasil adotadas por D. João. Eram raras as vozes entre brasileiros que apoiavam a separação entre os dois países. A maioria defendia a manutenção do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, na forma criada por D. João em 1815. Foram o radicalismo e a falta de sensibilidade política das cortes constituintes portuguesas que precipitaram a ruptura…
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