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JUPIC › 06/11/2023

Folhetim de 06 de novembro de 2023

OBLATOS DE MARIA IMACULADA
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, PAZ E INTEGRIDADE DA CRIAÇÃO 

ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS 

A primeira fase da 16ª Assembleia Geral chegou ao fim na noite de 28 de outubro no Vaticano. Este século, tomado pela efervescência de profundas transformações nas relações humanas, é um desses momentos; impõe-se uma séria reflexão sobre como fazer as milenares palavras cravadas nas Escrituras tenham um sentido verdadeiro para quem as segue. Um sinal ama relo acendeu-se nos últimos anos diante de números que revelam um declínio de católicos em  pontos do planeta em que historicamente formavam um contingente inabalável, como na América Latina, onde a população que se identifica como católica caiu de 70% para 57% em uma década. É neste cenário que o Papa Francisco ensaia um sopro de renovação, tocando em  assuntos tabu que abrem uma fresta para uma mudança sobretudo de tom, de modo que a Igreja não se ponha de costas aos incontornáveis ventos da modernidade. 

O debate está repleto de tópicos polêmicos que o próprio Papa colocou à mesa. A lista  inclui celibato, padres casados, bênção a uniões gays e ascensão de mulheres na hierarquia eclesiástica. Há uma freira francesa que é subsecretária do sínodo, cargo mais importante ocupado  por uma mulher. Pela primeira vez os assuntos que tomaram conta de 365 cabeças com direito  a voto foram pinçados a dedo depois de dois anos de pesquisa conduzida pelos principais  conselheiros do Papa pelo mundo afora, para que a Igreja se fizesse mais inclusiva. Entre os  participantes há 54 mulheres, sinal inequívoco indicador de avanço. O Papa já defendeu o  acolhimento de homossexuais, de pessoas gays, de mães solteiras, admitiu o divórcio e abordou  a questão do assédio. Isso resultou num documento de trabalho para nortear o sínodo em que  se martela a necessidade de a Igreja se faça mais inclusiva. O Papa quer escutar quem pratica o  catolicismo no dia a dia sobre temas que afligem seu rebanho. 

Em meio à expectativa de que temas espinhosos viessem à luz, o sínodo agitou Roma com  manifestações variadas, como a de mulheres excomungadas que protestam pelo direito de, também elas, serem padres, a palestras em que os cardeais ergueram a voz contra o Papa. Ninguém  espera que dali saia um documento revolucionário, até porque há por lá representantes de incontáveis matizes e correntes. Cinco cardeais fizeram barulho ao endereçar ao Papa uma carta pedindo explicações sobre sua posição quanto à ordenação de mulheres à bênção de gays. Ainda  pediram que Francisco esclarecesse se a a doutrina a Igreja poderia, afinal, ser reinterpretada. O  Papa respondeu dizendo que depende da interpretação que se dá à palavra reinterpretar. Se for  entendido como interpretar melhor, então é válido; o julgamento da Igreja pode amadurecer. 

Em outros momentos da história a Igreja se viu às voltas com o vendável da mudança e  precisou agir. Nos anos 1960 o Papa João 23 convocou o Concílio Vaticano II, um marco na modernização litúrgica e doutrinal. Como agora, a busca era por uma Igreja mais simples e afinada com seu rebanho, o que foi concretamente alcançado com a decisão de acabar com a exigência  das missas em latim e estimular que fossem celebradas no idioma falado pelos fiéis. Seu sucessor, Paulo 6º, que viria a concluir a guinada, foi o primeiro chefe da Santa Sé a visitar os cinco  continentes, e não cerrou os olhos ao mundo em marcha rumo à globalização, nem à revolução  sexual que sacudia o planeta. Ele até discursou na Organização das Nações Unidas. 

Francisco é dado a emitir opinião por vezes fortes e politizadas sobre o que se passa em  seu entorno, como guerras, miséria e até política. Ele demonstra disposição para tratar de assuntos que põem o Vaticano na berlinda. O atual sínodo, envolto em temas complicados, é um capítulo a mais numa trajetório em que o pontífice encarou a própria corporação que lidera ao reformar o Banco do Vaticano enredado em crimes financeiros, a abordar a pedofilia de sacerdotes, auditando igrejas e modernizando o código penal da Cúria. O Papa dá sinais de apressa o passo para conter a diminuição de fiéis. E já entrou na história como o maior fazedor de santos do catolicismo.

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